por Roger Maurício Caetano
“Esta é minha sogra”, expõe Andréia, apontando para uma senhora que observa nossa equipe de reportagem há certa distancia com cautela. “Meu marido está logo ali no coreto” diz ela sentada em uma mureta da Praça XV com um cachorrinho, que ela chama carinhosamente de coisinha, enrolando em um pano como se fosse uma criança de colo, enquanto aguarda o cachorro-quente, que oferecemos ficar pronto. Andréia chama sua sogra para se juntar a nós e a apresenta. “O nome dela é Lorita e mora conosco aqui na praça”, explica a moradora de rua.
No Brasil eles somam cerca de 1,8 milhão. Em Florianópolis, a secretária de Assistência Social diz que eles são uma média de 150. “Uma população invisível. Muitos são de fora e estão só de passagem, mas boa parte é daqui, tem família e estão na rua por opção”, declara Irma Remor Silva, coordenadora do projeto Abordagem de Rua que cadastra e dá assistência aos moradores de rua da capital.
A declaração da coordenadora vai ao encontro do que dona Lorita contou sobre sua vida. A velha senhora revelou depois de muita insistência que era da cidade de Caçador e estava ali há cerca de um mês por opção, pois queria tirar o filho David daquela vida com drogas. ”Deus tá me ajudando; tenho meu trabalho e vou alugar uma kitnete”. Discreta, ela evitou ao máximo revelar detalhes sobre sua vida, sempre desviando as respostas para coisas como “só Deus sabe meu filho”. Quando indagada sua idade, dona Lorita prefere não responder. Suas roupas surradas e seus cabelos sem pintura dão a impressão dela estar beirando os 70 anos.
Após muitas tentativas sem sucesso de tentar entrevistar dona Lorita, resolvemos saber mais com sua nora Andréia e o filho David. Andréia demonstra na aparência ter uma saúde muito debilitada. Muito magra, declara ser soropositiva e diz ter tuberculose e por esse motivo anda com uma máscara hospitalar. Informação que foi posta em dúvida pela coordenadora do projeto Abordagem de Rua revelando que muitos indigentes usam essas máscaras apenas para esmolar. Qualquer que seja o fato, Andréia obviamente tem uma saúde muito debilitada e diz que contraiu o HIV fazendo programas para sustentar seu vício em crack. Durante a entrevista ela pediu dinheiro várias vezes para comprar a droga. Isso facilitou que pudéssemos se aproximar mais dela e sermos apresentados a David.
David, o marido de Andréia é uma figura caricata entre os moradores de rua, sempre acompanhado de cachorros, usa dreads e tem um longo cavanhaque. Encontramos ele andando de skate na Praça XV, numero em algarismo romano que ele traz tatuado no peito, e o identifica como um morador da praça. David fala que é viciado em crack e diz que está naquela vida porque foi rejeitado por sua mãe quando criança em detrimento de seus outros irmãos.
No segundo dia quando voltamos à praça, descobrimos que Andréia havia sido presa na noite anterior por ter quebrado um vaso em uma discussão com David. Ele diz que não é atendido na delegacia e nos pede para averiguarmos notícias dela. Lá descobrimos que foi transferida para a carceragem feminina da Agronômica. Em uma tentativa de fazermos contato com a direção do presídio, o funcionário que atendeu ao telefone confirma que Andréia está presa no local, mas não diz estár ciente de que ela é soropositiva.
No terceiro dia em que voltamos a falar com David, o encontramos bêbado com uma garrafa de cachaça nas mãos. “Eu bebo para conter a fissura do crack”, explica ele. Eu dou as notícias sobre Andréia, mas ele parece não dar muita importância e apenas quer ficar deitado no coreto da Praça XV com os cachorros. Mais tarde ele diz q vai trabalhar e pouco tempo depois volta com algumas moedas para então sair novamente e retornar com um pouco de crack que vai fumar ali mesmo. Manter uma conversa com ele é difícil e resolvo ir embora.
No quarto e último dia encontro David deitado no mesmo lugar onde o vi pela última vez. Ele está dormindo e quando acordado parece não querer conversar. Perguntamos por sua mãe e ele revela que brigaram. Pede para conversarmos com ela longe dali. Quando a encontramos, ela diz que tem uma “novidade” para nos contar. Para não criar caso tentamos evitar que vá até o coreto onde David está, mas é tudo em vão, pois ela insiste para ir até lá para contar a “novidade”.
Dona Lorita senta em um dos banquinhos e vagarosamente começa a contar a tal novidade. David está deitado há uns cinco metros dali ouvindo nossa conversa.
-Pois é meu filho, eu tinha uns documentos perdidos.
-Que documentos? Pergunto eu.
-Da aposentadoria, diz sorrindo.
-A senhora vai se aposentar?
-Vou, finalmente. Deus sempre ajuda a gente!
-Vai alugar a kitnete?
-Não, vou voltar para minha cidade.
-Ameemmmmmm! Grita David se retirando dali. Com desprezo.
Dona Lorita explica a partir de então que não vê mais motivos para ficar ali, já que David não quer largar aquela vida de drogas e violência, “eles só sabem fumar drogas e baterem uns nos outros com o skate”.
Quando pergunto a David sobre a saída de sua mãe, ele fala com um tom de voz magoado e diz: “Ela estava até aqui agora porque precisava de mim. Assim que saiu a aposentadoria, me deixou”.
No Brasil eles somam cerca de 1,8 milhão. Em Florianópolis, a secretária de Assistência Social diz que eles são uma média de 150. “Uma população invisível. Muitos são de fora e estão só de passagem, mas boa parte é daqui, tem família e estão na rua por opção”, declara Irma Remor Silva, coordenadora do projeto Abordagem de Rua que cadastra e dá assistência aos moradores de rua da capital.
A declaração da coordenadora vai ao encontro do que dona Lorita contou sobre sua vida. A velha senhora revelou depois de muita insistência que era da cidade de Caçador e estava ali há cerca de um mês por opção, pois queria tirar o filho David daquela vida com drogas. ”Deus tá me ajudando; tenho meu trabalho e vou alugar uma kitnete”. Discreta, ela evitou ao máximo revelar detalhes sobre sua vida, sempre desviando as respostas para coisas como “só Deus sabe meu filho”. Quando indagada sua idade, dona Lorita prefere não responder. Suas roupas surradas e seus cabelos sem pintura dão a impressão dela estar beirando os 70 anos.
Após muitas tentativas sem sucesso de tentar entrevistar dona Lorita, resolvemos saber mais com sua nora Andréia e o filho David. Andréia demonstra na aparência ter uma saúde muito debilitada. Muito magra, declara ser soropositiva e diz ter tuberculose e por esse motivo anda com uma máscara hospitalar. Informação que foi posta em dúvida pela coordenadora do projeto Abordagem de Rua revelando que muitos indigentes usam essas máscaras apenas para esmolar. Qualquer que seja o fato, Andréia obviamente tem uma saúde muito debilitada e diz que contraiu o HIV fazendo programas para sustentar seu vício em crack. Durante a entrevista ela pediu dinheiro várias vezes para comprar a droga. Isso facilitou que pudéssemos se aproximar mais dela e sermos apresentados a David.
David, o marido de Andréia é uma figura caricata entre os moradores de rua, sempre acompanhado de cachorros, usa dreads e tem um longo cavanhaque. Encontramos ele andando de skate na Praça XV, numero em algarismo romano que ele traz tatuado no peito, e o identifica como um morador da praça. David fala que é viciado em crack e diz que está naquela vida porque foi rejeitado por sua mãe quando criança em detrimento de seus outros irmãos.
No segundo dia quando voltamos à praça, descobrimos que Andréia havia sido presa na noite anterior por ter quebrado um vaso em uma discussão com David. Ele diz que não é atendido na delegacia e nos pede para averiguarmos notícias dela. Lá descobrimos que foi transferida para a carceragem feminina da Agronômica. Em uma tentativa de fazermos contato com a direção do presídio, o funcionário que atendeu ao telefone confirma que Andréia está presa no local, mas não diz estár ciente de que ela é soropositiva.
No terceiro dia em que voltamos a falar com David, o encontramos bêbado com uma garrafa de cachaça nas mãos. “Eu bebo para conter a fissura do crack”, explica ele. Eu dou as notícias sobre Andréia, mas ele parece não dar muita importância e apenas quer ficar deitado no coreto da Praça XV com os cachorros. Mais tarde ele diz q vai trabalhar e pouco tempo depois volta com algumas moedas para então sair novamente e retornar com um pouco de crack que vai fumar ali mesmo. Manter uma conversa com ele é difícil e resolvo ir embora.
No quarto e último dia encontro David deitado no mesmo lugar onde o vi pela última vez. Ele está dormindo e quando acordado parece não querer conversar. Perguntamos por sua mãe e ele revela que brigaram. Pede para conversarmos com ela longe dali. Quando a encontramos, ela diz que tem uma “novidade” para nos contar. Para não criar caso tentamos evitar que vá até o coreto onde David está, mas é tudo em vão, pois ela insiste para ir até lá para contar a “novidade”.
Dona Lorita senta em um dos banquinhos e vagarosamente começa a contar a tal novidade. David está deitado há uns cinco metros dali ouvindo nossa conversa.
-Pois é meu filho, eu tinha uns documentos perdidos.
-Que documentos? Pergunto eu.
-Da aposentadoria, diz sorrindo.
-A senhora vai se aposentar?
-Vou, finalmente. Deus sempre ajuda a gente!
-Vai alugar a kitnete?
-Não, vou voltar para minha cidade.
-Ameemmmmmm! Grita David se retirando dali. Com desprezo.
Dona Lorita explica a partir de então que não vê mais motivos para ficar ali, já que David não quer largar aquela vida de drogas e violência, “eles só sabem fumar drogas e baterem uns nos outros com o skate”.
Quando pergunto a David sobre a saída de sua mãe, ele fala com um tom de voz magoado e diz: “Ela estava até aqui agora porque precisava de mim. Assim que saiu a aposentadoria, me deixou”.
"Casos de Familia"
ResponderExcluirParece nome de novela...
Alias, o texto todo parece saido de novela global...