terça-feira, 7 de junho de 2011

A tristeza de um sorriso e o cansaço de uma chegada

A Rodoviária é cenário de despedidas e reencontros, mas principalmente, de lugares e situações inusitadas

Os senhores com bigode, os jovens rockeiros, casais apaixonados, mãe e filha cheias de sacolas não percebem os esconderijos de amores, o pequeno lugar embaixo da escada onde dorme no frio um velhinho e o segurança da Rodoviária. No máximo, param para comprar um café, ou um salgadinho. Mas a maioria anda despreocupada, olhando vitrines e esperando o ônibus, olhando fixamente para o relógio no teto que indica 21 horas e 48 minutos.

Mas há um garoto, que segura uma mala e observa tudo. Como se estivesse reconhecendo o território por onde passa. Meio tímido ele analisa a movimentação que um grupo de estudantes faz. Ele olha para um lado, olha para o outro, tenta disfarçar, mas seus olhos não desgrudam dos universitários. Queria ele ter a chance de poder estudar e ter uma profissão no futuro.

Desde que nasceu o adolescente, de 16 anos, viveu em más condições, passando fome e frio no Morro da Caixa. A desilusão pela vida o fez cair nas drogas, um caminho quase sempre sem volta. E hoje é morador de rua, ele até diria que mora na Rodoviária, mas nem sempre é possível conseguir um lugar quentinho para se dormir, pois os seguranças não deixam com que certas pessoas entrem, sentem nas cadeiras sujas e alaranjadas ou peçam esmola para algum turista. Mas que pessoas são essas?

Pessoas como o jovem Wellington, que desacreditaram da vida. Adultos e adolescentes com condições de vida péssimas, vivendo de drogas e de trocados dos outros. Eles são enxotados como cães pelas pessoas que vigiam o local. Porém, esta não é a vontade destes seguranças. Wilson é segurança da Rodoviária há 20 anos e afirma que não gosta de trabalhar ali, é triste ter que tratar um ser humano como lixo, ou pior que isso.

Com o sorriso triste Wellington se despede, talvez pensando na dificuldade de um dia ingressar em uma universidade. Ao mesmo tempo, por ele passam mãe e filha, apressadas e com aparência cansada. Desembarcando de São Paulo, as mulheres com muitas sacolas afirmam ter vindo do bairro do Brás, local onde fazem compras. Donas de uma loja no camelódromo central viajam uma vez a cada duas semanas, com o intuito de repor o estoque. Ser sacoleira dá dinheiro? “Dá sim, mas também dá muito cansaço e poucas horas de folga”, afirma Roberta, filha de Marcela.

Com pressa elas se despedem esperando a cama quentinha em casa na noite chuvosa. Depois de ouvir sobre “camas quentinhas” olhei para o lado e vi na parte de fora da Rodoviária, várias pessoas dormindo em caixas de papelão e em cobertores finos, velhos, rasgados e com aparência muito suja.

Depois de conversar com estes personagens conversei com Wilson juntamente com a minha turma e ouvi histórias inimagináveis. Quem diria que o terminal é freqüentado por públicos diversos em diferentes dias da semana. Sexta-feira, por exemplo, o maior número de pessoas é homossexual. Com esta deixa, o segurança nos conta sobre o dia que entendeu o amor entre dois homens, do mesmo sexo. Ele os viu fazendo sexo em um lugar aparentemente escondido dos olhos humanos, mas não das câmeras. Então percebeu o amor e a cumplicidade que ali existia. “Trabalhar ali é crescer como pessoa, é saber lidar com situação familiares de uma maneira muito mais fácil, pois você vê de tudo”, afirma Wilson.

Quando estava deixando a vivência em grupo e indo embora para casa, pensei no quanto é estranho o fato de do lado do cartão postal da cidade ter pessoas, lugares e histórias ricas em detalhes que a própria capital menospreza e que os turistas não vêem.
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Quem sou eu
Nome: Juliane Barcellos Teixeira
Idade: 19 anos
Curso/fase: Jornalismo/ 5ª fase
Ocupação: Gerente de Marketing
O que aprendi com a vivência: O estudo em grupo tornou-se um enorme aprendizado e percebi que todos somos iguais, independente das condições que nascemos. As situações por nós vividas muitas vezes não se comparam com a dos outros e mesmo assim criamos diversos empecilhos e dificuldades para nós mesmos.

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