Nos textos de Gay Talese é possível perceber que os esquecidos não têm relevância na sociedade. O valor estético do texto aponta detalhes de animais e pessoas esquecidas em Nova York e também mostra as características dos personagens expostos de uma forma excêntrica.
O autor trabalha com dados, números e estatísticas. Mostra os detalhes dos personagens, como as qualidades e defeitos de um porteiro. Na rodoviária Rita Maria, em Florianópolis, também há um personagem que faz o papel do porteiro das reportagens de Gay Talese, mas o porteiro da Ilha da Magia permanece obscuro dentro de uma guarita de estacionamento.
Andar pela rodoviária é perceber um leque de cores, iluminações e aspectos de ilusão. A parte externa do terminal contém um cenário escuro e carrega um ar sombrio. A parte interior, onde fica a plataforma de embarque e desembarque, apresenta uma boa iluminação e uma estrutura que faz o papel de uma mãe, a mãe Rita Maria, que oferece aos moradores de rua, aos despercebidos, um local para protegerem-se do frio, para usar os banheiros e para conseguir uma possível alimentação.
Gay Talese também explora a iluminação e o jogo de cores da cidade à noite para caracterizar seus cenários. O trabalho com a imaginação e a ilusão tem como exemplo os manequins que são produzidos de acordo com uma beleza padrão e esbelta. A inspiração dos nova-iorquinos por manequins é como um desejo por uma jovem virgem, só que sintética.
A imagem e o espírito de Rita Maria ainda têm um aspecto muito vivo dentro da rodoviária. As faxineiras limpam o local sem qualquer intervenção física. Aliás, a presença delas, não tem significado visual para os frequentadores do terminal rodoviário. Espreitando o terminal de chegada e de partida, o espírito de Rita Maria parece pairar sobre a estrutura alta e metálica. Isso é o que garante a faxineira Marizete Simão Pereira, casada, 46 anos, e totalmente crente na história de ter visto os pés de Rita Maria na sexta-feira santa, enquanto limpava o chão perto dos banheiros.
Na frente do terminal, a imagem de Rita Maria está destacada com uma grande estátua, mas a iluminação, embora precária, não esconde os descuidos nos reparos da estrutura externa, deixando a obra de arte em um completo abandono. Na estátua é possível ver uma venzedura deixada por Rita Maria em setembro de 1982. “Deus é sol, Deus é lua, Deus é a Claridade. Deus é as três pessoas da santíssima trindade. Sai sol, sai sol, sai sol. Em nome de Deus e da Virgem Maria”.
No mundo dos despercebidos de Gay Talese, a cidade de Nova York, lugar populoso, com grandes empresas, grandes profissionais, mas com um trânsito infernal, onde os animais não têm vez, os lixeiros não têm vez, os policiais camuflados na multidão são guardas inofensivos, os moradores de rua que são fortemente esquecidos e jogados ao chão, fazem papel de meros figurantes. A cidade é saturada de uma poluição visual e sonora, onde o olhar de uma pessoa corre como se estivesse cego. O que parece marginal à sociedade padronizada, não tem espaço em Nova York, é intensamente esquecido. Os cenários de uma metrópole camuflam o valor dos esquecidos.
Em Florianópolis, um artista, com uma inteligência fora de série, uma simpatia e um carisma invejável. Este é o morador de rua, Marcelo, nascido em São José do Rio Preto, São Paulo, tem 35 anos e é pai solteiro. Transferiu-se para Santa Catarina visando encontrar o seu mundo. Fazendo
Gay Talese traduz a emoção com uma riqueza de informações e busca sensibilizar o leitor, mostrando a igualdade entre as pessoas. Caracteriza a realidade atual e cruel para alertar e incentivar a mudança nesse aspecto negativo. O valor de um morador de rua é o mesmo valor de um empresário, de um animal abandonado para um cachorrinho de uma senhora, todos têm sentimentos e merecem uma vida conveniente. Esta é uma mensagem ética e o principal fio condutor da reportagem “Nova York, é uma cidade dos despercebidos”, de Gay Talese.
Um olhar diferenciado, uma visão complexa e inteligente do “manézinho” Gay Talese. “Mané” por que conseguiu mostrar-me através de suas leituras de vida o que significa Florianópolis. Ensinou-me a valorizar os despercebidos, enxergar o irreal. Um norte-americano, fora de série, conhecia Florianópolis muito antes de eu pisar na Ilha da Magia.
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Ericky Maier é natural de Braço do Norte (SC), tem 19 anos, e está graduando o quinto período
